A visão "Economist" e a teoria petista da conspiração

Essa semana a capa da revista britânica é a seguinte:


Para relembrar a publicação, ela teve duas capas com o mesmo tema (com apenas 3 anos de diferença):



A capa da Carmen Miranda com frutas podres foi muito mal recebida pelo já desgastado Planalto. Dilma deu de ombros, assim como sua equipe econômica...

O Planalto comemorou o boom de 2010, quando o Brasil parecia invencível, enquanto a crise de credibilidade financeira mundial  demandava dos EUA e da Europa enormes esforços para suas economias não retrocederem. A capa do Cristo Redentor decolando apareceu em todas as exposições de autoridades do governo, consultores de negócios, enfim: o Brasil tinha chegado lá!

Compartilhei as mesmas mesas de palestra com técnicos do governo federal e diplomatas "alinhados", em missões internacionais, extremamente altivos e confiantes de que, agora sim, o Brasil estava em um caminho sem volta, o da prosperidade. Mais ainda, o Brasil era o modelo econômico e social do mundo.

Estavam errados. Adoram propaganda. Quando é favorável a seus empregos. Quando a realidade bate à porta, como ocorre hoje, com o país sem crescimento e inflação galopante para padrões civilizados, aos quais nos acostumamos desde 1994, com o Plano Real, essa turma da torcida vira a cara.

A Economist é uma publicação ortodoxa, em matéria econômica. Não é uma revista de sociologia ou ciência política. As opiniões expressadas baseiam-se na concretude dos fatos, não no voluntarismo que é tão caro a Lula e asseclas. Para Lula, Dilma, Mantega e tantos outros, basta querer que a economia cresça, mesmo sem restruturar a matriz econômica brasileira, que tudo estará bem.

Não sou economista, mas estudo economia.

A onda das commodities passou, a China desacelera e a demanda por matérias primas brasileiras voltou ao estado normal, não eufórico.

O dinheiro no mundo passou a não mais ser problema. O problema são bons projetos que saibam ser tocados para realizar algo. O Brasil captou o dinheiro que quis nos últimos 20 anos. Usou mal uma boa parte (não conseguiu ser tão incompetente como Eike Batista... mas a inspiração ufanista e irreal é a mesma).

O governo federal impulsionou o crédito loucamente e as famílias brasileiras se endividaram muito. Os bancos lucraram maravilhosamente, as indústrias automobilísticas (berço de Lula e parceiros de greves) foram subsidiadas salvando-lhes, enquanto nos EUA e Europa a coisa ia muito mal...

O funcionalismo brasileiro é de dar gosto. Ganha maravilhosamente, especialmente em cargos mais qualificados, concursados mesmo. Se eu tivesse optado, ao invés da advocacia privada, ir para a advocacia pública quando me formei em 1990, estaria hoje com vencimentos, fácil fácil, de R$ 30.000,00 por mês. Para mim seria maravilhoso, mas penso o que isso significa na carga fiscal, em um país onde o salário mínimo é de menos de R$ 1.000,00. Ou seja, o estado brasileiro promove a desigualdade quando pagam-se salários 30, 50, 100 vezes maiores a funcionários desse mesmo estado... algo que ninguém realmente quer mudar. Além disso, me aposentaria com salário integral. Quando olho para trás, se tivesse imaginado que o Brasil continuaria na mesma mentalidade de 1808 quando a família imperial mudou-se trazendo seus nobres parasitas do Estado, eu teria feito outra escolha...

A gente acha que está chegando a hora de pagar a conta. Ela não será paga. Não há equação que baste. Nem vontade política. Não nos iludamos, especialmente nós, pobres mortais não pendurados nas tetas do Estado.

Aécio vai tentar, se eleito, reajustar as finanças, mas politicamente é um esforço hercúleo e muito não será feito. Acredito em seu empenho, na sua capacidade em reunir uma equipe sensacional de profissionais públicos e privados, mas o problema está nos fundamentos, na mentalidade brasileira, que precisará de gerações e sofrimento para se ajustar a uma realidade minimamente equilibrada.

Dilma vai continuar degringolando a economia, espremendo onde é possível, e os exemplos Venezuelano e Argentino comprovam que leva tempo demais para a população fazer algo contra tiranos ou incompetentes. Ela vai continuar o Brasil imperial, com as desigualdades que começam pelo estado brasileiro, pelo funcionalismo de marajás, permitindo que Brasilia seja o PIB municipal mais alto do país, um dos maiores do mundo, sendo que tal cidade sequer possui uma indústria ou serviço de reconhecimento notório. A cidade-parasita mais rica do Brasil é sinônimo da dificuldade em se mudar algo... especialmente se for para os próprios políticos proporem algo que lhes retirará poder.

Enfim, as perspectivas são de mudança, necessárias, mas haverá um momento em que será preciso identificar e escolher "quais mudanças". Isso se dará na mesa de negociação dos partidos, não nas ruas ou em debates de TV.

Não vai dar prá cumprir todas as promessas, mas o debate ainda nem começou.


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