Mensalões brasileiros

A herança cultural e histórica pode ser tanto bênção, quanto maldição.

Caio Prado Júnior, no início de sua História Econômica do Brasil, compara muito bem as características da colonização de países quentes versus de clima temperado. Ele explica a motivação de cada modelo colonial sob a visão da metrópole, bem como delineia o perfil humano dos europeus que ocuparam as novas terras, para substituir-se aos povos nativos (assimilando-os, subjugando-os ou apenas eliminando-os, pura e simplesmente).

Quando lemos notícias como essa, constata-se que o PT não é o criador da prática do mensalão. O escândalo foi descoberto, julgado e alguns dos culpados condenados, alguns inclusive com rigor muito maior que a razoabilidade e o bom senso exigiriam.

O Brasil, do Império à República, baseou sua administração pública no uso de bens do estado (e de outrem, como indígenas) para fins pessoais e de manutenção da oligarquia no poder. Essa é a fôrma (desculpem a grafia antiquada, mas há coisas que melhor se expressam em linguagem gótica) da qual nascemos todos nós, brasileiros. É assim que a química brasileira funcionou e ainda funciona, independentemente da ideologia, partido, cor ou credo.

Usar o público para manter-se no poder é do DNA brasileiro. Ainda que a democracia seja um valor existente no país, a nossa é bastante diferente dos países desenvolvidos (não só economicamente, mas politicamente), pois o sistema de freios e contrapesos não funciona. O direito não funciona para todos, como deveria. Poderosos são pouco atingíveis, há toda uma cultura de infringência da lei.

O novo presidente do TSE, Ministro Marco Aurélio, deu outro dia uma bela entrevista dizendo que leis há, o problema é que nenhum político dá o exemplo e as observa. Preferem pagar multa por propaganda eleitoral antecipada ou disfarçada, que chega no máximo a R$ 25mil.

O Fernando Pimentel, que disputará o governo de Minas Gerais em 2014 mudou sua agenda e está no estado direto, unicamente para fins partidários, usando e abusando das facilidades e meios de seu status de Ministro de Estado. Esse é um exemplo que Marco Aurélio dá, onde presidente e ministros abusam de sua condição, jatinhos, caneta, influência, para comprarem mais influência.

Esta é a história do Brasil, que se repete.

E os mensalões (Congresso Nacional, Brasília, mineiro, paulista, sulista, etc.) continuam sendo uma prática corrente, onde dinheiro público financia a manutenção do poder.

O que acho mais impressionante, para não dizer altamente frustrante e decepcionante, é que tem gente que se acha realmente inteligente e é festejada pela comunidade científica, tipo uma Marilena Chauí, um Márcio Pochman, que querem fazer crer que o PT que eles tanto idolatram, não se utiliza de meios exatamente idênticos aos de um Sarney, Collor, irmãos Gomes (Ciro e Cid), e mais outros oligarcas que repetem a estrutura de conquista e perpetuação do poder desde a época da primeira república, com absoluto sucesso e impunidade.

Estamos na era da internet, do acesso fácil à informação, mas a grande maioria do povo aceita, continuamente, ser tratada como gado, tendo garantida uma cova nesse latifúndio.

Essa de dizer que no Brasil de hoje, das "esquerdas" dominando o país (no governo, nas faculdades, no policiamento ideológico, nas associações de classe, etc.), os meios justificam os fins (pois agora é com a redistribuição de riqueza), é piada de mau-gosto. Esse discurso garante que, por esse meio, o país permanecerá corrupto e podre, como sempre tem sido, nesses 513 anos de desgraça. E não há esperança no horizonte.

Encerro esse post, um dos últimos do ano, para expressar tristeza e constatar que, no Brasil, quanto mais se muda, mais se mantém tudo do mesmo jeito. 2014 será um ano sombrio para o país, e desejo deixar registrado o sentimento...

Convido-te a ouvir essa música, deVida e Morte Severina, que resgata o sentimento que sinto, a despeito de não ser lavrador, nem despossuído, mas não participo do poder e não vejo como a coisa pode melhorar, me dar o poder ao qual tenho direito, da mesma forma que o sertanejo, que permanece explorado por governos corruptos e essa estrutura perversa.

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