Esgotamento do modelo atual

A implantação no mundo de um modelo material de vida, baseado no American Way of Life dos anos gloriosos (pós-guerra), não é sustentável, sabemos bem.

A noção de fartura, de excesso, oriunda de um período em que a economia norte-americana e sua classe média gozaram de um aumento espetacular em sua capacidade de consumir e produzir, contaminou não apenas aquela sociedade, mas todo o mundo, toda uma geração.

Ainda que a década de 90 tenha sido marcada pela descoberta dos danos ambientais do CFC dos ares-condicionados, dos sacos plásticos que levam milênios para a natureza absorver, da camada de ozônio reduzindo, do overfishing que está acabando com diversos pescados, etc. parece que o modelo dos anos 1950 ainda permeia todo o sonho da sociedade de consumo atual.

O Brasil comprou a idéia perfeitamente, e por mais que tenha um governo dito de esquerda, distributivista, suas ações se baseiam totalmente no acesso ao consumo, não à idéia de funcionalidade. O alvo no excesso, no conforto, no aumento da metragem quadrada onde famílias vivem, no número de armários cheios, carros na garagem e tantos outros gadgets que se tornam obsoletos em poucos meses, faz com que estejamos burramente esgotando as capacidades recicláveis do planeta.

Não se trata mais da briga comunismo X capitalismo.

O tema atual é consumir menos, mais conscientemente, para encerrarmos o ciclo de dependência da energia e do esgotamento da natureza.

A indústria não deseja isso, mas precisamos impulsionar a idéia que um carro tem que durar 10 anos, assim como eletrodomésticos, e tantas outras coisas. O culto da obsolescência não combina com um planeta responsável.

O modelo escolhido pelos países emergentes nada mais é que a reprodução do modo de vida festivo dos EUA na década de 1950, 1960, onde tudo se produzia, às pencas, sem qualquer responsabilidade com lixo, reciclagem, natureza.

O que ocorre na China e na Índia para mim é o melhor exemplo da burrice que ocorre no mundo hoje. São bilhões que estão sonhando em viver nos EUA de meio século atrás, consumindo como malucos e vivendo em grandes casas de subúrbio, andando nos seus majestosos carros que queimam uma baba de combustível... 4 pneus, 1 passageiro, etc...

Só que cabe ao cidadão entender que o modelo esgotou. Precisa mudar. Não se trata mais de ideologia, mas de constatação.

Do meu lado, só quando o carro estiver enferrujado penso em trocar. Mesmo podendo antes (felizmente), não tem sentido fazer lixo. Já acho que faço lixo demais, para uma família pequena.

Reproduzir o consumo excessivo para bilhões está trazendo grande mal à humanidade. Os países desenvolvidos destruiram suas florestas e rios antes de muito país emergente, e agora estão à busca do tempo perdido, que é imenso desafio tecnológico e psicológico, cultural.

E fizeram errado nos últimos 20 anos, com o outsourcing, pois simplesmente exportaram a poluição, como se o ar da China ou do Bangladesh não estivesse na mesma atmosfera terrestre.

O problema é que só daqui a 40 anos os efeitos nefastos (doenças, escassez de alimentos saudáveis, ar de péssima qualidade, fim da biodiversidade) farão gente pensar.

Ainda que a moçada culta de hoje saiba ser esse modelo insustentável e ultrapassado, grande parte das famílias que sonham em ser classe média vinculam esse sonho ao consumo, às fotos dos EUA dos anos 1950, com carros, casas entulhadas de cacarecos, com centenas de metros quadrados por habitante...

Simplesmente não vai dar...

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