Segurança Pública no Brasil... um caso concreto

Há uma semana um fato desagradável aconteceu. Deixando o carro estacionado em local permitido, alguém manobrou errado sua caminhonete que bateu no carro, que por sua vez subiu em outro, causando danos. Não houve vítimas, mas era preciso fazer o boletim de ocorrência.

Dirigimo-nos (todos os donos dos veículos envolvidos) à Delegacia de Polícia na R. Timbiras com Av. Bernardo Monteiro. Um soldado estava sozinho no posto, conversando com uma senhora, e nos informou, com absoluta má-vontade, que não fazia ocorrências de trânsito sem vítimas. Que isso tinha que ser feito no Detran (acrescentando entretanto que o Detran estava em greve) ou em outra delegacia, perto do Mercado Central (Av. Olegário Maciel).

O estado da primeira Delegacia estava deprimente, pintura antiga cheia de manchas e mofo, sujeira, enfim, um ambiente de trabalho inapropriado para qualquer ser humano, especialmente para quem deve proteger e servir o cidadão.

Inconformados, mas obedientes, fomos à tal segunda Delegacia. Primeiramente, note-se que não havia local de estacionamento. Tivemos  que deixar os veículos em local proibido, com pisca alerta, para conseguirmos falar com alguém competente a tratar o assunto.

Diversas pessoas estavam no posto policial, cujo estacionamento estava cheio de carros de passeio... descobrimos que nenhum dos carros era dos cidadãos que buscavam assistência policial ou BO. Tais carros eram dos PM ou de seus amigos, já que os "clientes" da segurança pública tinha que ficar do lado de fora, alinhados a um canteiro central já abarrotado de carros... algo surreal.

O sargento que estava de plantão (era 12:30) digitava, ao ritmo de 5 letras por minuto em um computador arcaico, algo como dados de uma carteira de motorista de uma das dezenas pessoas que estava, pacientemente (e pacificamente) aguardando gestos de boa vontade...

Instado a se manifestar sobre 2 assuntos, vejam os diálogos:

Diálogo 1: achando estacionamento

Eu - Onde podemos deixar nossos carros, já que o canteiro central está cheio?
Sargento - Não estacionem do lado de cá, pois é carga de descarga e vou parar o que estou fazendo para multá-los. Estou esperando um colega e vamos multar todo mundo aí.
Eu - Como podemos então ajudar-lhe, para liberar um pouco?
Sargento - Esperem.

Diálogo 2: previsão de atendimento

Eu - O Sr. tem idéia de quando seremos atendidos para fazermos o BO?
Sargento - Tem mais de 5 ocorrências à sua frente. Esperem.
Eu - O Sr. tem estimativa de quanto tempo? Digo isso pois viajo hoje e tem um dos envolvidos que é médico e precisa ir ao plantão.
Sargento - Tenho até 18hs para fazer o BO. Esperem. Se não quiserem esperar, podem fazer o BO em até 6 meses. Não garanto que consiga fazer o BO hoje com tanta coisa para fazer antes...

Resultado: fomos embora. Uma das vítimas voltou à primeira delegacia e, surpreendentemente, havia outro policial que "aceitou" fazer o BO...

Conclusão: Minas orgulha-se de sua "Defesa Social". Deve orgulhar-se disso?

Na América do Norte, em todos os carros policiais consta a frase: TO PROTECT AND TO SERVE. Ou seja, proteger e servir.

Servir é ter empatia. É identificar-se com o problema alheio, tentar efetivamente ajudar.

Parece funcionar bastante bem em outras bandas, mas não no Brasil, ou em MG.

Deu pena ver os policiais.

Eles não possuem a mínima idéia que estão ali para servir o cidadão, que paga montanhas de impostos e já está revoltado com o Estado ineficiente. Eles não possuem qualquer empatia com os seus "clientes".

O potencial de melhoria é imenso.

Como a Secretaria de Defesa Social (nome totalmente inapropriado, ao meu ver, pois se quer é SEGURANÇA PÚBLICA, não defesa da sociedade...) de MG não toma conhecimento desses fatos?

Ocorre que, em geral, autoridades brasileiras não utilizam os trâmites comuns para resolver seus problemas, como num caso desses. Elas dão um telefonema e utilizam-se de exceções à regra, não sentindo na pele a inassistência ao cidadão.

Fico imaginando também o que deve ser para pessoas não esclarecidas, a frustração em verem seus direitos fundamentais (por crimes graves ou leves) violados por absoluta inassistência por parte dos organismos policiais.

É comum ouvirmos governantes falarem em aparelhar as polícias, comprar carros novos, armas, etc. mas o treinamento para atender o cidadão, o consumidor desse serviço essencial, inexiste.

O próprio Código do Consumidor aplica-se aos serviços públicos, mas vocês já ouviram falar de algum cidadão que chamou órgãos do consumidor para reclamar de um policial que não o tratou bem ou não o atendeu em um prazo razoável, ou com cortesia? Nunca ouvi...

Tem muito para melhorar.

Mas precisa começar.

Ass ruas clamam por uma melhoria no serviço público. Não seria hora de um CHOQUE DE EMPATIA nos serviços imediatos à população, a começar pelas polícias?

Por que acabou com as motos indo aos acidentes e fazendo BOs no local, em minutos? Era assim, mas parece que algum sabido achou que era mais barato (para quem?) isso não existir mais.

Perdeu o cidadão. Perdeu a cidadania.

Hora de mudança.

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