Unidos na polaridade: alienação legitimada?

Os Estados Unidos se transformaram, com seu vigoroso histórico de independência, em fonte de inspiração para movimentos democráticos nos últimos 250 anos, mundo afora.

A idéia de uma pujante república norte-americana influenciou profundamente a França a seguir no mesmo caminho, produzindo-se então a sangrenta Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do Homem, duas décadas depois do surgimento dos EUA.

Da mesma forma, países ao sul, na América Latina, menos de um século depois, iniciariam seus processos de independência e busca da auto-determinação.

Mais de meio milhão de vidas foram perdidas na guerra civil norte-americana, que opôs o sul ao norte, 90 anos depois da independência. A nação dividida ideologicamente, plúrima, aprendeu a ser funcional e a prosperar mediante um forte federalismo em que cada estado manteve sua autonomia legislativa, política e fiscal.

A Segunda Grande Guerra criou movimento unificador norte-americano, impulsionando a indústria e o espírito empreendedor do país, que populou-se atraindo imigrantes ansiosos por construírem uma nova sociedade, inclusiva e próspera, regida pelo estado de direito em que apenas a lei estaria acima das pessoas, sem imperador ou súditos.

Durante toda a guerra fria até duas décadas atrás, a chamada "Pax Americana" permitiu a prosperidade mundial já que Ásia, América Latina e África conheceriam melhorias de vida durante a Guerra Fria e após esta transformar-se em atrito multipolar.

A partir da década de 1970, em que a Guerra do Vietnã dividiu o país e, sobretudo, sua juventude aberta a idéias comunitárias e, porque não dizer, comunistas, começaram a influenciar aquela sociedade, sem entretanto fazer desmoronar o sonho americano de grande mobilidade social, prosperidade e inovação.

Hoje, a situação dos EUA é preocupante não apenas por um processo eleitoral para presidente e para o Congresso com retórica violenta e dois graves atentados à vida do candidato republicano, Donald Trump.

A cisma do povo norte-americano tem sido enfatizada sobretudo por influenciadores como a mídia, artistas e políticos de carreira. Jamais foi tão pertinente lembrar-se do bordão: dividir para conquistar, usado pelos ingleses colonizadores.

Ao invés de o país unir-se contra ameaças internas e externas comuns, tal divisão profunda causa alienação da maioria.

As glórias do passado vão cedendo a radicalismos e instrumentos opressivos típicos das nações totalitárias. O estado de direito é invertido, tornando-se estado autoritário por aqueles que detêm o poder, pelos que estão instalados em cargos de poder, subvertendo a ordem e deixando em último lugar a segurança jurídica e, sobretudo, democrática.

O uso de instrumentos de estado, como o poder judiciário e o aparato investigativo de agências de inteligência pelo partido democrata sob escusas de defender o país do que seria um ditador - Trump - é apenas um sintoma da doença institucional que contagiou o país, que parece não saber desvencilhar-se da armadilha.

A maior potência inovadora e econômica do planeta, regulada por um federalismo forte, desconhece-se ao olhar no espelho.

Ao invés da democracia pujante que inspirou o mundo, os EUA hoje são uma sombra da virtude que encantou no passado não por seus habitantes, mas por uma elite apodrecida, egoísta e obtusa.

Independentemente do resultado da eleição presidencial mais tóxica que se tem notícia, é certo que o país necessitará fazer um exame de consciência evitando mediocrizar-se ainda mais, após ter sido conduzido por 4 anos por um senil inepto e uma vice-presidente incoerente, regidos por velhacos da política.



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