Seletividade e conflitos
O mundo jamais conheceu um período de paz total. É certo que regiões já conheceram calmarias, períodos em que calma e harmonia passaram a ser tão valorizadas que haveria pouco incentivo para as perturbar.
A calma e a paz são garantidas não apenas por ações espontâneas, daí a necessidade de leis e de autoridades que vigorosamente as coloquem em prática, mediante coerção.
Lamentavelmente, como sói na tragédia humana, apenas após arrombada a porta é que se coloca uma tranca mais robusta...
Os períodos mais tranquilos, em geral, vividos pela humanidade no último centenário, aconteceram exatamente após imensa destruição, especialmente a Segunda Guerra Mundial. A França teve seus Anos Gloriosos, em que todos convergiam para a construção de uma nova sociedade moderna e pacífica.
O desespero econômico, a carestia, a fome e outros flagelos descontrolados historicamente foram causas de guerras regionais, civis e, algumas vezes, mundiais. As doutrinas e ideologias totalitárias também mobilizaram legiões que causaram tragédias humanitárias, recentemente acrescidas de ideologias religiosas, uma vez mais, pois se as Cruzadas estão longe na lembrança dessa geração, na história humana continuam muito próximas para salvar o Ocidente da Barbárie Islâmica.
As guerras justas e as guerras religiosas encontram-se em interseção, pois buscam justificar o uso da violência em nome de princípios considerados superiores, seja pela moralidade, justiça ou fé.
Guerra justa (just war) foi um conceito desenvolvido por filósofos como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, quando uma guerra pode ser moralmente aceitável se atender a certos critérios, como justa causa, autoridade legítima e proporção na resposta ao mal. A guerra justa seria tentativa de legitimar o uso da força quando outras opções teriam sido esgotadas na defesa de valores universais, como a justiça, a proteção dos inocentes, a auto-defesa e a restauração da ordem e da paz.
Já as guerras religiosas são motivadas por crenças espirituais ou religiosas, visando a expansão, defesa ou imposição de uma determinada fé sobre o restante de povos que optaram por outros modelos existenciais.
Guerras religiosas são fundadas no preconceito, na brutalidade para impor uma visão, justificando a violência, a tortura e a ampliação do sofrimento individual e coletivo para cumprir-se vontade tida como divina, revelada por sacerdotes assim aceitos por seitas que abraçam a destruição como modo de vida.
O mundo encontra-se com diversos conflitos em andamento, mas os mais notáveis, sob diferentes níveis de violência, parecem estar sendo reduzidos às guerras santas, ou religiosas.
O melhor exemplo é Israel, que combate o radicalismo islâmico fomentado pelos aiatolás iranianos em diversos fronts, já que os grupos financiados pelo regime iraniano propõem, "por quaisquer meios", a erradicação de qualquer vida não muçulmana naquele enclave geográfico, para talvez em seguida rumarem para outros destinos geográficos.
A Segunda Grande Guerra foi uma guerra justa pelo ponto de vista dos Aliados (vencedores em 1945), pois a motivação religiosa - o antisemitismo nazista - não foi a razão principal que levou recalcados alemães e outros povos a disseminarem a destruição, visando submissão dos povos onde resolveram invadir. O recalque alemão adveio do Tratado de Versalhes, da humilhação da perda da guerra, do vexame, seguido da decadência moral dos vencedores, convencidos de que não precisariam respeitar o vencido, assim alimentando sentimento de vingança, exacerbado pela crise econômica resultante da crise mundial após o Crash de 1929.
A invasão da Ucrânia pelo sanguinário impedoso Putin e a pretensa invasão - já anunciada, mas sempre adiada - pelo regime chinês sobre Taiwan, são guerras sem cunho religioso. Trata-se de tiranias mirando povos e territórios a serem conquistados com base em recalques, síndromes de inferioridade, pois são povos irmãos ou primos, de etnias e valores próximos, em que parcela minoritária nega-se a aceitar a submissão ou a autocracia, o comando central não-democrático, não-representativo. O desejo pelo controle e pela imposição da submissão, em guerras não-religiosas iniciadas por autocratas, parece constante, sendo a união dos covardes que não sabem construir e sim, demolir.
África e Oriente Médio sucumbem, há décadas, ao fundamentalismo religioso. Esse fundamentalismo flerta com elites do ocidente, mas ainda não encontrou método eficaz de contágio, já que por optar pela violência como modo de expressão, encontra resistência por quem ainda possui memória do confronto em larga escala que ocorreu há 80 anos.
É certo que organizações internacionais, como a ONU, já estão condenadas à insignificância e à ausência de orientação moral, pelo contágio que sofreram em seu aparato. Hoje, estas instituições que ainda se sustentam unicamente por conta da inércia histórica, tornaram-se não apenas irrelevantes no palco internacional e institucional, mas perderam de vista sua missão pacificadora e harmonizadora.
E assim, fica cada dia mais evidente a luta do bem contra o mal, da civilização contra a barbárie, muito amplificada no combate incessante de Israel a seus agressores.
Evidencia-se ainda o quanto é necessário fazer para evitar que as guerras religiosas sejam perdidas aos terroristas, aos fundamentalistas, aos aiatolás e a todos os que prosperam na dor, no sofrimento, na destruição, como os idiotas-úteis ocidentais que insistem em tomar ruas e universidades gritando slogans nazistas e antisemitas.