América Latina: mais do mesmo
Durante séculos, prevaleceu o diagnóstico de que a América Latina não se desenvolvia por culpa de potências externas, sendo o seu povo vítima de agressores estrangeiros. Essa realidade foi totalmente verdadeira em relação às tribos locais, e posteriormente aos mestiços, no período colonial, como ocorreu com qualquer colônia extrativa, cujo foco era a retirada dos ricos recursos naturais em benefício da metrópole, sem nada devolver em troca.
Hoje, já não se pode dizer o mesmo. Esse post tratará de como o latino-americano é vítima de si mesmo e, sobretudo, de suas elites corruptas e da criminalidade generalizada, impregnada nas instituições.
Portugal e Espanha não invadiram territórios para construir algo novo. Destruíram sociedades locais, causando genocídio dos povos originários, unicamente para mandarem aos seus reis e nobreza as riquezas extraídas com sangue e sofrimento. O motivo era tão vil que as grandes potências colonizadoras Portugal e Espanha eram boas em navegar, descobrir novas paragens, mas péssimas em gerir e criar riqueza. Tanto que quem mais lucrou foram Inglaterra e França, que vieram a se industrializar ao ameaçarem invadir a península ibérica. Conseguiram em troca o recebimento de muito da riqueza mineral extraída das colônias nas Américas. Portugal e Espanha administraram tão mal a sua fortuna extraída das colônias que sua história após o fim do período colonial até os dias atuais é de pobreza e não-industrialização.
Iniciativas para se criarem novas sociedades, mais modernas e supostamente melhores que as originais, opressivas pela Inquisição (ou a fome irlandesa causada pela coroa inglesa), foram tentadas e tiveram pleno êxito nos Estados Unidos e Canadá. Estes posteriormente tornaram-se portos seguros para refugiados e aqueles que sonhavam (e ainda sonham) com sociedades livres e prósperas.
Nota-se que judeus holandeses e portugueses aportaram no Recife enquanto o Brasil ainda era colônia. Sonhavam também com uma nova sociedade, livre do jugo da Inquisição, para exercerem o comércio e praticarem sua religião. Foram expulsos pelos portugueses e a mentalidade extrativa, fugindo para a América do Norte. Fundaram Nova Amsterdã, antigo nome de Nova Iorque, como se pode aprender ouvindo isso:
Em 1823, o Presidente Norte-Americano James Monroe lançou a doutrina A América para os Americanos, numa forma de estender a zona de influência dos EUA sobre os vizinhos do sul, em substituição aos ingleses. Isso decorreu do movimento de descolonização pelo qual aquele país havia passado a duras penas, inspirando tantos outros países a buscarem sua auto-determinação. A imitação do jogo colonial ocorreu em novo formato. Ao invés de colonizarem, haveria hegemonia, zonas de influência. Os EUA iniciariam aí sua jornada buscando a hegemonia econômica e militar que viria a ocorrer após o fim da Segunda Grande Guerra.
A narrativa latino-americana de vítima persistiria no século 20, ganhando ímpeto durante a Guerra Fria. Tendo Cuba sucumbido aos revolucionários em 1959, para posteriormente entrar na esfera de influência da antiga União Soviética (hoje Rússia), a idéia do imperialismo norte-americano como razão para o subdesenvolvimento da região passou a justificar o discurso soviético amplamente absorvido pelas esquerdas revolucionárias.
Desde então, várias gerações vêm sofrendo lavagem cerebral (inclusive a minha geração, que nasceu, cresceu e estudou no Brasil) por uma esquerda local encrustrada na academia e nas artes. Os males latino-americanos seriam pura culpa dos invasores estrangeiros, sobretudo europeus e norte-americanos. Apenas os partidos de esquerda, fundados em movimentos populares, seriam capazes de libertar os povos latino-americanos para finalmente serem plenamente felizes e justos. O mito do bom-selvagem seria resgatado integralmente e os esquerdistas incorporariam finalmente o personagem, sendo virtuosos por definição em contraponto aos invasores externos e aos conservadores situados em seus países.
Se os regimes militares das décadas de 1960 a 1990 tiveram êxito na região evitando que esta caísse na tentação comunista que condena Cuba ao atraso até hoje, certamente foi com apoio norte-americano e europeu. Os arquivos publicados pelo Congresso dos EUA comprovam a participação inequívoca (já a Europa mantém-se sempre discreta e opaca sobre seus interesses imperialistas até hoje).
As elites locais, protegidas e substitutas do colonizador português e espanhol, tiveram o benefício da luta contra o comunismo, mas souberam se adaptar muito bem após o fim da Guerra Fria, aliando-se aos... pelegos e movimentos sociais (como já abordado em outros posts nesse blog).
E assim, essa elite local adaptada, política e econômica, incompetente em gerar bem-estar social em virtude de sua obtusidade intelectual e materialismo egoísta e fútil, passou por certa tensão ante esquerdas políticas e movimentos sociais. Isso, entretanto, foi superado.
Como os extremos sempre se encontram e atraem, o ajuste da década de 1990 na América Latina é digno de nota.
Com a introdução da social-democracia na região, concluiu-se a tomada de poder sobre o próprio destino pela maioria dos países minimamente organizados, excluindo-se aqueles afundados em guerra civil.
Políticas sociais mais agressivas arrefeceram os radicalismos revolucionários. A esquerda política foi descriminalizada, a despeito de seu discurso salvacionista ter sido mantido. O esquerdista, com seu uso banal de camisetas com efígie do homicida Che Guevara, passou a ser admitido romântica e inocentemente nos meios sociais, gerando irresistível influência na academia e nas artes.
A narrativa opressiva continuou, mas a prosperidade experimentada após a Década Perdida transformou a constante miscigenação étnica em política, econômica. O tão condenado neoliberalismo enriqueceu a região (sim, acumulou riqueza no topo da pirâmide, admitamos), gerando disciplina fiscal, do estado, melhor gestão pública, preparando o que viria adiante. O capital passaria a inimigo aceitável até que a esquerda política mais radical se adaptasse (perdendo adeptos moderados), decidindo que o capital seria admitido no jogo, desde que ajudasse a financiar a narrativa salvacionista dos grupos organizados (tais como o Foro de S. Paulo).
A social-democracia latino-americana deu espaço à entrada progressiva da esquerda no poder, culminando no uso de conceitos e instituições democráticas por gente de toda sorte, sem mudar o DNA local do discurso de vítima.
Afetos à marginalidade, inspirados pelas estórias do período de chumbo de ditaduras militares, não poucos esquerdistas associaram-se ao crime organizado, sob a justificativa de que estariam combatendo o status quo e assim, achando algum fundamento moral para seus crimes.
Esse artigo explica o problema atual (basta clicar encima da parte de cor diferente que abre nova aba) em toda a sua gravidade.
Equador e outros
Essa semana, o candidato a presidente Fernando Villavicencio foi morto por um cartel equatoriano, a dez dias das eleições. Apesar de não ser favorito nas eleições, ele denunciava a corrupção e o vínculo de políticos com o crime organizado naquele país. Seu discurso era altamente inconveniente às elites locais.
Ameaçado de morte costumeiramente, o candidato desafiou seus detratores a despeito dos apelos de silêncio de sua família e colegas de campanha. Seus assassinos são gente do crime organizado, com recursos materiais e humanos suficientemente sofisticados para montarem um ataque de sucesso, como ocorreu.
No Brasil algo similar aconteceu, em que um ex-militante da esquerda radical tentou matar o então candidato Jair Bolsonaro. Um sinal claro de que segmentos da esquerda política brasileira simpatizam com esse tipo de ataque pode ainda ser constatado: mantêm-se publicações que promovem a narrativa mentirosa de que o outrora candidato sequer teria sido esfaqueado como essa.
Basta o leitor explorar as mídias sociais de tendência simpatizante a radicalismos e encontrará todas as teorias conspiratórias possíveis, desmerecendo o atentado que quase tirou a vida do candidato, desvinculando seu algoz dos movimentos radicais de esquerda (foi considerado inimputável por problemas mentais), mas tornando a vítima em culpado.
Fato é que o presidente da Venezuela é sócio e maior interessado no narcotráfico na região. Procurado pela justiça norte-americana, o amigo das esquerdas latino-americanas continua posando de vítima e granjeando apoio na união estado-crime organizado.
E assim, a emigração de gente da região para América do Norte e Europa continua a passos largos, a despeito de há mais de 15 anos a região ser majoritariamente administrada pelos supostos "revolucionários".
Esses líderes latino-americanos, da festejada esquerda política libertadora (admirada em especial na academia e na imprensa, inclusive mundial), assumiu o poder sob o mantra do "sabemos melhor o que o povo quer e precisa" prometendo prosperidade e inclusão para todos. Só que ao chegarem ao poder, sem mérito algum além do ativismo em causa própria, repetem as mesmas práticas opressivas e corruptas que prometem combater quando dão entrevistas ou sobem em palanques eleitorais.
E o pior, cada dia fica mais evidente: vários políticos se aliam à criminalidade organizada ou aceitam tal associação de "amigos" como fórmula de manutenção do poder.
Como prova da corrupção extrema do discurso acima denunciado, veja esse relato de ex-membro do MST que expôs as entranhas do que é o mais famoso movimento social da América Latina, descortinado em uma CPI (comissão parlamentar de inquérito). Essa CPI foi enterrada, essa semana, a mando de Lula a seu partido e à sua base aliada no Congresso brasileiro: as verdades são demasiado inconvenientes para continuarem sendo publicadas.
Nada mais será necessário dizer ou explicar sobre "os métodos", após você assistir ao depoimento dessa senhora.