Oportunidade para melhorar o mundo

Quando a pandemia foi anunciada, pouco a pouco, vários países foram fechando suas fronteiras, determinando em seguida lockdowns e a progressiva paralisação das atividades econômicas.

Todos com quem conversei, à época, avaliaram que uma rede de solidariedade mundial seria criada em decorrência de todos se submeterem ao mesmo temor  e sofrimento sanitário. Não havia tempo para individualismos, já que a sorte da humanidade estava sendo posta à prova.

Com governos socorrendo negócios e pessoas com cheques emergenciais, já que a economia tinha parado, algum sentimento de solidariedade se propagou. Os recursos para tais cheques de salvamento foram provenientes de impostos ou impressão de dinheiro gerando inflação. Cada contribuinte, portanto, deu, está dando e dará sua participação no combate aos piores efeitos da pandemia.

Ocorre que a intervenção estatal no esteio social e na economia só tem êxito de forma pontual, instantânea, jamais duradoura. Qualquer dirigismo estatal, sabe-se pela experiência do último século, tende a criar privilégios e a deixar grande parte da população à margem, por absoluta incapacidade em se avaliar e gerir a totalidade das variáveis sociais e econômicas (e independentemente do fato de se saber que governos possuem preferências, ideologias e escolhem ganhadores e perdedores).

O resultado da intervenção estatal durante a pandemia - e ainda ocorrendo - é a exacerbação da desagregação social e da desconfiança, resultado do grande poder de coação exercido por governos que menosprezaram (ou mesmo proibiram, como foi o caso canadense) iniciativas e opiniões individuais.

O desrespeito ao indivíduo já vinha ocorrendo nos últimos anos. A crise financeira de 2008 gerou desagregação social e sentimento de que apenas o sectarismo é justificável. Os banqueiros que quebraram o mundo não foram encarcerados, os políticos que lhes beneficiaram receberam mais recursos para campanhas e foram reconduzidos pelo voto comprado, a pantomima da hiper-regulação não encerrou o ciclo de concentração de riqueza em poucos grupos ajudados pelas mãos da mídia mentirosa e governos alinhados com esses grandes grupos. Tais fatos justificaram desconfiança em tudo e em todos, que culmina no sentimento de que apenas o individualismo nefasto prospera. Buscar o fim comum, soluções coletivas para enfrentar uma doença ameaçadora, não gerou solidariedade como eu havia imaginado.



A Guerra Fria não começou em 1961 com a construção do Muro de Berlim, nem acabou em 1989, com a Perestroika e o desmantelamento da União Soviética. A guerra fria habita o ser humano desde sempre e o habitará até que se extingua da face da terra. A guerra humana interna entre bons e maus atos, entre bons e maus pensamentos, ocorre e é inegável. Ela precisa de orientação, elementos morais que justifiquem e permitam a vida em sociedade, com harmonia e respeito à individualidade e singularidade humanas.

A desumanização ocorre quando o indivíduo é anulado. E foi isso que a pandemia fez. É isso que a mídia divisiva e certos discursos e práticas de políticos e governos tem feito. Certamente sabemos, cada um de nós, o bom caminho, só que escolhê-lo e andá-lo exige determinação, energia, inclusive força de vontade para contra-argumentar, para mostrar novos rumos e alternativas aos que, comodamente ou por medo, optam por manterem-se dentro de suas próprias cavernas mentais.

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