Os donos do Brasil não se escondem, nem se intimidam.

A oligarquia funcional (no sentido de dominante no âmbito da gestão pública), os novos-poderosos, utilizando das técnicas e linguagem dos velhos-poderosos desse país, continua tomando-o de assalto para benefício de seus próprios currais.

Já havia me referido a isso de forma direta e afiada nesse post, quando examinei o papel das oligarquias e dos coronéis no comando de regiões e, finalmente, da nação. O fenômeno continua igual, apenas mudando-se nomes e métodos.

As ações recentes do Procurador Geral da República, caricaturado nesse post, publicando, a conta-gotas, revelações dos administradores da JBS fazendo ameaças veladas aos Ministros do STF, são mais uma demonstração de que a mentalidade oligarca é o que realmente destrói o país.

Aliás, os Batista não podem ser chamados de donos da JBS, pois são meros laranjas do grupo de poder que administrou o Brasil até recentemente e do BNDES, aquele banco que cria bilionários jogando fora recursos do pobre povo brasileiro, mas que por vezes financia projetos realmente sensacionais e de mérito.

Gente que toma o poder, por concurso, indicação política ou voto, se arvora dono de tudo e de todos, inclusive o destino da nação. Raras são as exceções.

Chegam ao poder e dizem: esse gado é todo é meu! E um dia, meu filho, será seu também!...



Entendo ser esse o descompasso fundamental brasileiro: as instituições precisam ser preservadas de gente que ainda tem a mentalidade oligarca e que chega ao poder para exercê-lo ao seu bel prazer.

O oligarca brasileiro, diferentemente do que foi estudado em Freire, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro e tantos outros autores que examinaram magistralmente a formação do povo e do poder nacional, se renova independentemente de propriedades ou de sobrenome, na era moderna.

O oligarca brasileiro, ao tocar o poder, cede ao irresistível impulso de ignorar completamente que representa uma parte da população e que está lá primordialmente para zelar pelos interesses dessa população e que deveria observar, acima de tudo, princípios constitucionais, especialmente os da MORALIDADE e da IMPESSOALIDADE.

Esse novoligarca nada mais é que Macunaíma, muito bem ilustrado por Mário de Andrade, 90 anos atrás.

Notinha: para aqueles que lêem em francês, convido-lhes a conhecerem minha alocução de 26 de setembro de 2011 (com Dilma ainda no poder) sobre o Brasil e o caráter de seus administradores, proferida na abertura da semana do Brasil na UQÀM. Modestamente, admito que a alocução foi muito bem recebida pela platéia, mas retiraram todos os registros do site após alguns anos (transcreverei a alocução em 2022 nesse blog).




Eu insisto, há muito tempo, para que se dê menos poder ao MPF - Ministério Público Federal, que tem função importantíssima a exercer, mas que por meio de investigações de certos procuradores tem tornado o Brasil, e alguns de seus mandatários, reféns de seus atos altamente midiatizados (inclusive transformados em filme, contrariando qualquer princípio ético no processo judicial em que autoridades envolvidas em investigações não podem comentar ações até que o procedimento judicial tenha se encerrado).

Esses atos sensacionais e sensacionalizados apenas causam descrédito mundial sobre pessoas e instituições brasileiras.

Como tem-se visto, em número preocupante, tais atos midiatizados decorrem de ações abusivas, coativas (ou seja, absolutamente contra a vontade do investigado, sendo-lhe imposto um limite, quase que criminosamente, a seu direito de defesa e de proteção à imagem e à honra) ou mesmo ilegais, servindo a propósitos políticos ou corporativistas, incluindo-se aí interesses horrorosos e inconfessáveis de gigantes da mídia.

Noto que eu inclusive fui vítima recente - pequena vítima, diga-se de passagem - desse exercício de poder abusivo por parte de mandatários que coagiram um certo meio de comunicação a retirar-me de suas fileiras por falar "o que não se deve revelar, para o bem do equilíbrio de forças e dos anúncios que alimentam o jornal". Falar sobre censura, em governo petista, até pouco tempo atrás, era quase um contrasenso, mas foi o que aconteceu em MG.

Na realidade, vai-se descobrindo que os que exercem o poder no Brasil são desconectados, na maioria das vezes, da necessidade e da vontade popular. E pouco ligam para isso, pois a impunidade é quase certa, especialmente se estão lá no alto da cadeia alimentar...



Brasília tem a culpa por quase tudo isso.

É isolada da maioria do povo brasileiro, concentrando gente importante que consegue se manter em distância sanitária de seus representados, frustrando-lhes em todos os sentidos, mas usurpando-lhes recursos financeiros já escassos.

A elite intelectual, social, econômica e política brasileira, ao aceitar esse exercício oligárquico de poder em pleno século XXI, nada mais está fazendo do que deixar, para seus descendentes, o seguinte legado:



Vide também esse artigo.

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