Sociedade organizada, exemplo positivo

Muitos estão comentando a rapidez com que as informações sobre o terrível acidente aéreo da Germanwings estão sendo divulgadas. Comparativamente com o que ocorreu nos acidentes da Malásia, Brasil e tantos outros países, a organização germânica demonstra uma sociedade funcional onde as pessoas em seus cargos sabem muito bem o que devem fazer. O promotor responsável pelo caso tem compartilhado informações possíveis, e a área técnica não lhe faz sombra. Todos trabalham organicamente, ao menos é o que o noticiário deixa transparecer. Da mesma forma a cooperação diplomática franco-germânica parece ocorrer quase à perfeição. Os valores parecem os mesmos, os métodos também. O objetivo é a informação rápida da população sobre um tema que afeta a todos: respostas às famílias das vítimas (inclusive disponibilizando 50 mil euros só para despesas não reembolsáveis imediatamente, por família), expectativas quanto aos viajantes aéreos para se conhecer as razões da tragédia, para evitar sua repetição.

O funcionamento de uma sociedade é testado nesses momentos críticos. A demanda cidadã por serviços públicos passa pela eficiência destes. É um exemplo a ser seguido, posteriormente acolhido pela justiça, que deverá, indistintamente, tratar da questão (no caso, a responsabilidade da empresa em não acompanhar um doente mental de perto, dando-lhe o comando de uma aeronave à qual famílias confiaram suas vidas e de seus queridos).


Essa reflexão se dará no Brasil.

O país é desfuncional. Todos, sem exceção, posts anteriores desse blog e de milhares de outros, abordam incessantemente a ausência de racionalidade e funcionalidade do estado brasileiro em situações importantes, como o exercício da democracia.

Há ilhas de excelência na gestão pública brasileira. Essas ilhas são exatamente aquelas que não dão votos, ou que são compostas por pessoas que não buscam o glamour dos escritórios luxuosos. O exemplo melhor é a defesa civil, que acode a população em catástrofes naturais, muitas delas causadas pelo populismo e irresponsabilidade de gestores públicos, que se acham mais políticos que gestores.


O caso do acidente aéreo e do co-piloto suicida será destrinchado, novos procedimentos de notificação de doenças psiquiátricas de pilotos serão criados, protocolos para um dos pilotos deixar a cabine em vôo serão ajustados, e a empresa será responsabilizada a pagar indenizações bilionárias por sua culpa em não olhar mais de perto a integridade psicológica dos seus pilotos, vitimando desnecessariamente passageiros.

Enfim, a omissão é perigosa, mata, e será responsabilizada. Não há dúvidas disso e nenhuma oligarquia, nenhuma influência de poder, superará o certo, o que deve ser feito.

No Brasil conhecemos tragédias como o do prédio Palace II, cujas vítimas tomaram calote e perderam entes queridos, o acidente da TAM, onde o objetivo da companhia pareceu ser acobertar culpados e deixar familiares das vítimas em situação miserável para aceitarem qualquer indenização, etc. etc.

Enfim, não é bom dizer, mas o Brasil sabe a diferença entre a irresponsabilidade e o certo, só que insiste, em várias das vezes (a maioria), em esconder a realidade sob o tapete e perpetuar injustiças. Um dia, espero, algo mudará e alguma organização social como a que vemos no caso do acidente aéreo citado, poderá ser aprimorada não apenas no nível da elite pública, mas também naquele do cidadão comum.

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