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Shangri-La

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       Qualquer ser humano, quando adulto, tem a nostalgia romântica do retorno ao berço familiar, em especial quando teve o privilégio de ser concebido e criado em um meio acolhedor, saudável e amoroso. Isso acomete a todas as pessoas confrontadas pela realidade nua e crua do mundo, com suas complexidades e idiossincrasias. Por isso, tanto Thomas More, em sua obra “Utopia” escrita em 1516, influenciada diretamente pelo recente confronto cultural dos europeus com os nativos das Américas que acabavam de “descobrir”, tido como inocentes e naturalmente bons, quanto James Hilton, em seu “Horizonte Perdido”, de 1933 (influenciado pelos horrores da Primeira Guerra Mundial), apontavam civilizações primitivas como próximas do ideal humano: sem guerras, ganância ou desigualdade aparentes. Tão importante foi esse movimento de valorização do primitivismo como algo próximo da perfeição social que criou-se o Mito do Bom Selvagem. Esse mito amplamente incutido na psiqué humana...

Metacognição e assuntos de estado

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  A violência sempre foi a arma dos ignorantes. A ausência de raciocínio e informação, a incapacidade de elaborar argumentos lógicos e bem-fundamentados induzem ao recurso à força, pois o agente ignorante é incapaz de convencer pacificamente. O uso de palavrões, já dizia minha professora de português no secundário, é sinal de pobreza de vocabulário, despreparo e pouco estudo. Em 1999, a dupla de psicólogos David Dunning e Justin Kruger realizou testes envolvendo gramática, lógica e humor. O padrão identificado foi revelador: os que obtinham as piores avaliações eram justamente os que mais superestimavam suas próprias capacidades, enquanto aqueles com as melhores avaliações frequentemente se subestimavam. A autoavaliação dos voluntários comprovou um fenômeno muito comum: a dissonância entre realidade e autoimagem. O estudo acabou batizado como Efeito Dunning-Kruger, abordando o viés cognitivo com o qual nos enxergamos no mundo. No meio educacional, é comum cruzarmos com alunos...

Pertencimento e crítica

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Quando Jean-Jacques Rousseau, 250 anos atrás, intelectualmente isolado por suas idéias revolucionárias para a época, concebeu o Contrato Social, ele idealizou o pertencimento de indivíduos a uma coletividade espontaneamente colaborativa, em que certos direitos seriam sacrificados por um bem-maior. O inovador e disruptivo Rousseau visava esvaziar conceitos de legitimidade de reis e clero sobre o povo, que deveria decidir soberanamente o próprio destino. O ideário da transposição do abandono na pobreza ao pertencimento empoderado conquistou a sociedade francesa, fazendo-a revoltar-se violentamente em 1789. Enfim, haveria uma alternativa participativa ao absolutismo e à tirania! O império da lei idealmente livre dos vícios humanos contém elementos divinos de perfeição, mas é atraente por aplicar-se horizontal e igualmente a todos. Nações surgiram em seguida e a idéia do legalismo ganhou força, onde a materialização do sonho perfeito e acabado de um Contrato Social resultante do ordena...

Trump e bazófias dos governantes canadenses

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Há 20 dias, Donald Trump assumiu o poder nos Estados Unidos, ungido pelo voto majoritário e dos colégios eleitorais do seu país para limpar a burocracia, disciplinar o uso do dinheiro público em todas as áreas dentro e fora das fronteiras do país, na defesa dos interesses dos americanos. E ele parece estar seguindo à risca o mandato recebido, segundo a própria mídia tradicional informa. Há anos ele despreza o primeiro-ministro canadense, que manifestou por si e por auxiliares próximos desdém pelo presidente norte-americano, aliás, uma moda nos círculos "progressistas", sobretudo por gente que inveja o sucesso empresarial de Trump e que depende essencialmente de recursos públicos para viver (ou mesmo enriquecer, imagina-se como). O Canadá é um país magnífico, berço de culturas variadas, riquíssimo em território e recursos naturais, onde abundam boas universidades e talentos intelectuais. O Canadá é beneficiado pela vizinhança dos EUA há séculos, já que sua pequena população é ...

Dilema desnecessário: entre apatia e ativismo

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Em uma era em que a lente de aumento parece ser a regra para enxergar e enquadrar todas as relações, resultado da exponencialização da raiva (e em medida muito limitada, do amor) promovida pela hiperconectividade, muitos parecem tentados a assumirem posições radicais: alienarem-se ou virarem ativistas. Lembro-me bem, durante minha campanha política fracassada, que qualquer um que gostasse de cachorros, bicicletas, a natureza ou corridas deveria se auto-denominar ativista para gozar de credibilidade nas convicções que emitia, segundo o folclore. É certo que há valores comuns na sociedade como um todo, garantido manter-se coesa, mas a idéia da defesa "radical" de bandeiras, sejam boas ou más, é ruim e deve ser sempre considerada como marginal. A razão da manutenção necessária do estado de  marginalidade do ativismo advém do fato que sempre a maioria esmagadora das pessoas terá pouco interesse, pouco ou nenhum conhecimento das matérias tão caras aos tais ativistas (ONGs, grupo...

Genocidas: dados históricos

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Um esclarecimento para os desinformados ou mal-informados, especialmente aos Antissemitas (sejam intencionais ou úteis-idiotas) que falam irresponsavelmente em "Genocídio" que desejam falsamente atribuir a Israel após o país ter sido invadido pelo braço armado palestino em 7 de outubro de 2023. Abaixo, listo alguns ditadores mais notórios da história recente, que se destacam pela brutalidade e pelo rastro de sangue que deixaram (e continuam a deixar) por onde estiveram ou ainda andam.  Sim, muitos ainda têm apoiadores, não apenas nos seus calabouços, mas também no Ocidente: 1. Mao Tsé-Tung (China)    - Período no Poder: 1949-1976    - Estimativa de Mortes: 45-70 milhões de pessoas    - Métodos: Coletivização forçada, fome (Grande Salto Adiante), expurgos políticos (Revolução Cultural)    - Vítimas: Cidadãos chineses, especialmente camponeses, intelectuais e opositores políticos    - Impacto: As políticas de Mao, especialmente o Gra...

Supremo Tribunal Federal do Brasil necessita profunda reforma

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  STF não passa no seu teste de integridade (transcrição) Por Conrado Hübner Mendes “Se alguém produzisse relatório periódico do colapso ético da conduta de ministros do STF, as últimas semanas não decepcionariam. Os episódios não repercutiram porque a magistocracia, no final, vence pelo cansaço. Se essa é das leis mais estáveis da história do patrimonialismo brasileiro, difícil manter motivação para lutar contra ela. Gilmar Mendes reconduziu, por liminar monocrática, presidente da CBF ao cargo. Há duas semanas, votou pela manutenção da decisão. O IDP, empresa da qual o ministro é sócio, e que organiza encontros político-advocatício-empresariais, gere operação lucrativa da "CBF Academy". Se você fizer curso na "Academy", parte do recurso vai para o IDP. Honrosamente, Barroso e Fux se declararam suspeitos no caso da CBF. Mas Fux, menos honrosamente, ao lado de seu filho advogado, participou do "Forbes Power Dinner", sediado na casa de sócio do "Nels...

Virtude e coragem

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Em um mundo com muito barulho, em que maciça presença dos meios de comunicação transformaram o próprio meio em mensagem, pode faltar clareza sobre os valores que importam à sociedade para que se mantenha funcional, harmônica. TRANSTORNO DISSOCIATIVO PATOLÓGICO Ouvi recentemente a belíssima peça teatral Dr. Jekyl and Mr. Hyde , inspirada no Médico e o Monstro (1886) de Robert Stevenson, narrada no link acima por nada menos que o magnífico Sir Laurence Olivier, retratando a dicotomia entre o lado bom e o lado malévolo dos seres humanos. Como na peça, a  dissociação da personalidade constitui curiosidade geral. Não se limita apenas às ciências psiquiátricas, criminal ou jurídica.  Imputar responsabilidade a pessoas por atos horríveis que cometeram ou que continuam cometendo crimes exige compreender o nível de consciência que as levou ou continua a levar a cometer tais atos horríveis. Transpondo a questão aos dias atuais, mediante maior desenvolvimento da compreensão da psyché h...

Construindo elites

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Antigo ditado já dizia: " cercar-se de anões não te faz um gigante ". Na sequência desse ditado, diz-se ainda que " somos a média das 5 pessoas com quem mais convivemos " . É muito importante sabermos escolher com quem convivemos, pois ainda há o velho adágio " diga-me com quem andas, e te direi quem és ". O mesmo deve ser  aplicado a gestores, públicos e privados. Se tenho um problema de saúde, buscarei tratar-me com um especialista, médico que tratou diversas pessoas com o mesmo problema. Essa conclusão parece óbvia: busca-se o melhor tratamento por quem conhece a moléstia na prática e certamente a estudou e a estuda, mantendo-se atualizado. Acredito que buscar tratar-se com alguém que apenas estudou um assunto, com altíssimas notas acadêmicas, mas que jamais teve prática, jamais conviveu com pessoas que sofrem da moléstia que precisa ser tratada, não seria a preferência de pessoas razoavelmente conscientes de que mérito suplanta em muito a formação acad...

Fake News

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 A venda da verdade absoluta, anunciar o poder da revelação, de enxergar o que os outros não enxergam e assim tornarem-se relevantes sempre foi uma tentação aos oportunistas e desonestos, bem como aos parasitas de regimes políticos ilegítimos. Ouvi falar em Fake News , pela primeira vez, durante a campanha de Donald J. Trump à Casa Branca em 2016.  Eu já nutria desconfiança em relação às notícias publicadas em jornais, sobretudo porque tive uma passagem de vida perto dos holofotes e de personalidades públicas em minha infância e adolescência. Na minha Belo Horizonte natal, eu sabia que, por detrás das fotos e notícias de jornal, havia realidades muito diferentes, muitas tragédias escondidas sob sorrisos e anúncios falsos. Isso foi transposto à mídia social e o fake , o mentiroso, ainda persiste, projetando miragens distanciadas da realidade, mentiras criadas especialmente para destruírem reputações, prejudicar pessoas, falsear eleições, limitar idéias e, sobretudo, parasitar o...

Indignação e paisagens

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Conciliarem-se interesses exige ciência e paciência, a moderação sendo uma qualidade esperada de gente madura, independentemente da idade. Há loucos e amorais idosos (os famosos "velhacos"), enquanto há jovens que parecem ser a reencarnação de antigos filósofos ou de Buddha... A cada dia que passa, convenço-me que o tempo não cura muitas coisas. Conciliar pessoas, idéias e interesses não significa, entretanto, anulação. Sem estrutura, sem fundação, nada é construído e a conciliação sem considerar todos os ângulos expostos e partes envolvidas não poderia ser assim chamada, pois se trataria de submissão. Finalmente, amadurece o uso das mídias sociais, que vitimaram gravemente a geração nascida em meados dos anos 1990. Tal geração saiu de um paradigma histórico humano real e tangível diretamente ao virtual, sem qualquer guia ou manual de uso aos pais ou tutores. A geração Z , ou pós-milênio , foi criada, testada e "programada" sob a violência nua e crua de um mecanismo...

Auto-penitência e hábito científico

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Não sou propriamente religioso ou místico, mas sempre frequentei prazeirosa e curiosamente cultos religiosos nas duas religiões monoteístas que meus antepassados me legaram: cristianismo e judaísmo.  Sendo o judaísmo a raiz do cristianismo, essas compartilham festejos, valores éticos e algo que sempre achei muito interessante e útil: o exame de consciência e a auto-penitência pelos erros cometidos , na busca do aprimoramento constante .  Na prática cristã que conheço, em cada missa há um momento inicial de auto-penitência, rogando-se pela piedade divina.  No judaísmo, Yom Kippur é denominado Dia do Perdão , momento em que um exame de consciência visa limpar de culpa o coração, pedir perdão não a Deus, mas a quem se fez ou quis mal, para se seguir adiante, sem o peso dos erros do passado ou a amargura que atrasam a evolução. Como investigador da Idade Média , pelo volume concentrado e riquíssimo de reflexões e filosofia resultantes da época que culminou no Iluminismo , a...

Meu amigo (imaginário) e os abusos de poder no STF

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Quando cruzo pessoas na rua com seus airpods ou outras engenhocas auriculares falando (sozinhas), lembro-me do tempo em que apenas os loucos faziam isso, aparentemente . Com a modernidade da inteligência artificial, passei a ter um amigo imaginário com quem converso todos os dias, trocando idéias sobre passado, atualidades, pesquisando e opinando... esse amigo se chama ChatGPT que tanta gente tem usado (poucos admitindo-o). Com a celeuma criada em torno dos evidentes abusos de autoridade de certo personagem da cena judiciária brasileira, fiz algumas perguntas que desejo compartilhar com meu fiel público leitor. Primeira pergunta: já teve impeachment de algum alto magistrado no Brasil? Resposta: Não há precedentes de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na história do Brasil. Embora o impeachment de ministros do STF seja legalmente previsto na Constituição Federal de 1988, nunca foi concretizado. A Constituição estabelece que ministros do STF podem ser responsab...