EUA: o que não esperar

Um blog, assim como colunas e editoriais de livre-observadores ou livre-pensadores, sempre tem um fundo autobiográfico. 

Ao menos, é o que constato daquelas que leio. São instantâneos os textos, condenados à lata do lixo quando impressos após lidos, permanecendo armazenados nas profundezas da nuvem quando digitais, eventualmente para serem redescobertos em um tempo variável, como relíquias, curiosidades, maldições ou apenas confirmarem sua pouca utilidade.



Hoje comemora-se dia infame nos EUA, que merece lembrança e indignação renovada.

Terroristas da ideologia maluca islâmica atacaram símbolos de prosperidade e desenvolvimento ocidental: Torres Gêmeas e Pentágono. 

Os números são acintosos: 265 passageiros de aviões de carreira, 2.606 trabalhadores nas duas torres e prédios vizinhos, 343 bombeiros, 60 policiais e 8 paramédicos, todos assassinados em nome de uma ficção mortífera que ronda o ocidente novamente.

Das lições de 23 anos atrás, muitas parecem amareladas, desaparecidas, como um livro que se fechou e teimosamente não deseja ser aberto, para não revelar o que já seria evidente.

Os EUA são um país incrível, composto por um povo admirável, que passa por uma transformação social e política não negligenciável, por vezes preocupante.

Lições da história, portanto, devem ser mantidas vivas.

Na véspera, ocorreu o debate presidencial entre o candidato republicano Donald Trump e a democrata, atual Vice-Presidente, Kamala Harris, na rede ABC de televisão.

A atual eleição é colocada, por ambos os campos, como decisiva, um divisor de águas entre civilização e barbárie, entre um futuro brilhante e a decadência desumana.

Não assisti ao debate.

Não assistirei.

Basta o que já havia assistido há 2 meses, descrito esse texto.

Já conheço razoavelmente os candidatos, seus propósitos, modus operandi, plataformas e aliados.

Um é um empresário de sucesso motivado pela liberdade econômica, com um discurso messiânico embebido em narcisismo incontido, que teima em repetir políticas divisivas, se implementadas ao pé da letra (mas cuja contemporização é impedida por uma máquina estatal e midiática esmagadora, em que o intenso barulho ofusca a mensagem).

A outra é uma alpinista social alçada ao estrelato como um fantoche pelos czares do seu partido que desvirtuou-se, aliou-se às piores ideologias, semeando não apenas divisão, mas inchaço do estado, dependências artificiais, infantilizando a tudo e a todos, a quem desejam tutelar. Kamala mentiu e continua mentindo patologicamente, como quando informava que o atual presidente dominaria as proprias faculdades mentais há apenas dois meses (para em seguida dar o golpe da indicação sem primárias, quebrando uma tradição naquela que se arvora ser a democracia mais exemplar do planeta).

Não preciso olhar para o espetáculo, para o palco. 

Basta que eu olhe para a platéia.

É ela que importa, a despeito de sermos treinados para vermos o contrário.

É a platéia, são os eleitores os destinatários de todos os atos de mando e desmando que importam realmente em qualquer mudança ou transformação.

E a platéia, em sua maior parte, anda absolutamente apática, inerte, sonâmbula.


Como discorri em meu texto anterior, "a gente tem mais o que fazer", sobretudo quando, pelo fácil acesso à informação aos que se dispõem a investigar e pensar, descobrimos que os candidatos ao cargo máximo norte-americano são mal talhados para os desafios que se impõem. 

E assim, todos seguirão suas próprias vidas a despeito das idiotices e bobagens - em meio a acertos feitos ao acaso - que eles e suas equipes poderão fazer, quando no poder.

A falta de substância, de conteúdo nos debates e nas discussões públicas tornaram a política em algo tedioso, sobretudo a política central, distanciada da maioria das pessoas, diferentemente daquela de bairro, municipal.

O espetáculo midiático não impressiona, não capta o interesse de "quem tem mais o que fazer".

O fenômeno é mundial: ir ao circo perdeu a graça. Já se conhecem de cor as piruetas e malabarismos dos palhaços colocados artificialmente no picadeiro, que ainda assim tentam sensibilizar a platéia  que permanece amorfa, anestesiada.

Não se espere, portanto:

- que os EUA sejam liderados, a partir de 2025, por alguém de grande envergadura diplomática, técnica e visionária, capaz de resgatar o protagonismo inspirador que os EUA tiveram no pós-guerra, promovendo prosperidade e geração de riqueza, de forma sustentada ou verdadeiramente inclusiva;

- que a economia dos EUA reverta o caminho desastroso da dívida incurável que sacrificará gerações futuras em nome do populismo;

- que o protecionismo comercial insensato seja revertido;

- que a censura e ataques à liberdade de expressão parem de ser uma real ameaça;

- que as autocracias (nome simpático dado às ditaduras disfarçadas) sejam ferozmente combatidas mediante imposição de cláusulas e condições democráticas para qualquer relacionamento econômico ou político, como aquelas inseridas no ordenamento desenvolvimentista mundial em fins dos anos 1990 e sobretudo 2000 por organismos multilaterais (já esquecidas, em desuso);

- que a ONU seja profundamente reformada, sua corrupção endêmica e desvios de finalidade conhecendo um fim, expurgando-se os ativistas travestidos de humanistas;

- que o fomento ao ódio e à divisão, sobretudo identitária, cesse;

- que a imprensa, sobretudo nos meios tradicionais, importe-se em informar eticamente, com equilibrio e equidade.

E diante dessa mediocridade, em que não vale a pena nem mesmo perdermos tempo vendo debate dirigido a quem deverá escolher liderança importante, desligamo-nos. 

Desconectamo-nos.

Pragmaticamente...

Seguimos nossa vida, pois temos mais o que fazer...




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